A seguir, a resenha do livro "A Revolução dos Bichos" de George Orwell. Minha professora de história solicitou a leitura do livro e realizamos oficinas para discutirmos a obra e confeccionarmos nossas resenhas. Gostei muito do resultado final e resolvi postar aqui para vocês. Espero que gostem, deixem seus comentários.
George Orwell, pseudônimo utilizado por
Eric Arthur, nascido em 1903, na índia e estudante na Inglaterra, tornou-se um
dos mais influentes escritores do século XX. O jornalista, romancista e
crítico, utiliza-se de uma alegoria, estabelecendo uma comparação entre o real
e o animado em sua obra “A Revolução dos
Bichos”, que assume forma de fábula com o objetivo de esclarecer e criticar
algo.
Avaliado por Malcolm Bradbury como “A melhor sátira já escrita sobre a face
negra da história moderna”, a obra porém, enfrentou diversos obstáculos
antes de ser publicada. Por ser considerada uma sátira agressiva à ditadura
stalinista, vários editores a rejeitaram. Quando publicada, em 1945, estremeceu
o ramo literário e político da época, por ser imediatamente identificada uma
analogia ao regime soviético.
Utilizando-se do recurso da figura de
linguagem, mais especificamente da personificação, ou seja, atribuindo
características humanas aos animais, Orwell estabelece uma comparação direta entre
os líderes da Granja dos Bichos - onde se passa a narrativa - com os políticos russos
da época em que ocorria a Revolução, dando a eles a forma de porcos; isso
representou uma grande ofensa aos governantes e agravou ainda mais a atmosfera
de desconforto.
Criando um paralelo entre a Revolução
dos bichos e a Revolução Russa, George Orwell estabelece uma relação entre a
Granja dos Solar, liderada por Jones e a Rússia Czarista.
A narrativa se dá a partir de um sonho
tido pelo sábio porco Major (facilmente relacionado a Karl Marx, o pai do
comunismo), idealizando um mundo sem humanos. Após a morte do Major, impulsionados pelo sonho
do sábio porco e pela insatisfação a respeito das condições em que viviam, a
miséria e a tirania dos homens que ali mandavam, a Revolução dos bichos não
tarda a acontecer. Eles expulsam Jones, o dono da granja, e os outros humanos, tomando
o poder.
Baseados em sete mandamentos, que
posteriormente foram sintetizados em um único lema “Quatro pernas bom, duas pernas ruim”, os animais instituíram um regime
semelhante ao socialismo, chamado de Animalismo. Logo após a revolução, o poder
encontrava-se nas mãos do porco Bola-de-Neve, que pode ser comparado à Lênin,
pois o mesmo tomou as rédeas da Revolução Russa e deteve o poder, em primeiro
momento. Desde então, os animais trabalhavam felizes, pois os frutos de seus
esforços estavam sendo colhidos por eles, e não pertenceriam aos humanos como
antes; se sentiam livres e viviam bem como os donos daquele lindo lugar, a
Granja dos Bichos.
Entretanto,
subitamente, o porco Napoleão dá um golpe e à força toma o poder implementando
seu regime totalitário. Portanto, podemos compará-lo a Stalin, pois assim como
este, utilizou a mídia, que no caso da narrativa foi representada pelo porco
Garganta, para garantir sua legitimidade.
Corrompidos pelo poder, os porcos
começam a burlar os mandamentos criados por eles próprios após a revolução, assim
como previam os anarquistas, ao afirmarem que o poder é o maior inimigo em uma
sociedade. Porém, com os pronunciamentos de Garganta, os outros animais acabam
cedendo, pois são a massa, analfabeta e facilmente manipulada. Dessa forma, é
notório o objetivo do autor de levar à tona imperfeições humanas: impõem regras
e abusam do poder que têm, burlando-as, enquanto outros aceitam e se adaptam
rapidamente.
A obra completa é apresentada em 112
páginas, fragmentadas em 10 capítulos. Entretanto, estes são completamente
conectados, sendo possível inclusive a eliminação dessa divisão. Possuindo um
posfácio por Christopher Hitchens e dois apêndices, o livro completo contém 147
páginas.
É fascinante como o autor consegue
criar uma interação entre o leitor e o livro, despertando-nos às mais diversas emoções
e sentimentos por cada um dos personagens.
O ódio ao porco Napoleão, a pena
do bravo Sansão... Ao final, os porcos adquirem características tão humanas que
já não se sabe se são porcos ou homens.
Transcendendo barreiras dos fatos
históricos, Orwell encontra maneiras de denunciar, mostrando defeitos da raça
humana por meio de sutis alfinetadas pela trama, possibilitadas pelos encantos
da literatura. Seres oportunistas, manipuladores, antiéticos, hipócritas e mais
estúpidos a cada nova geração.
“Haviam
nascido muitos animais; para alguns a rebelião não passava de uma obscura
tradição transmitida oralmente, e outros nem sequer tinham ouvido falar a
respeito. [...] Nenhum mostrou-se capaz de aprender o alfabeto além da letra B.
Aceitavam tudo quanto lhes era dito sobre a Revolução e os princípios do
Animalismo [...] mas era duvidoso que entendessem lá grande coisa.”
A narrativa é uma leitura muito
interessante e recomendada à aqueles que gostam de refletir sobre formas de
governo, questões sociais e humanas. Recomendo especialmente à aqueles que se
interessam ou estudam a Revolução Russa. Apesar da obra não se aprofundar no
processo revolucionário, a analogia dos personagens permite melhor entendimento
e fixação do conteúdo, de forma leve e envolvente, com uma linguagem de fácil
compreensão.
George Orwell, apesar de ter sofrido
diversas retaliações, persistiu com sua obra e deixou um grande legado à
humanidade.