domingo, 28 de julho de 2013

Sutis Alfinetadas


A seguir, a resenha do livro "A Revolução dos Bichos" de George Orwell. Minha professora de história solicitou a leitura do livro e realizamos oficinas para discutirmos a obra e confeccionarmos nossas resenhas. Gostei muito do resultado final e resolvi postar aqui para vocês. Espero que gostem, deixem seus comentários.


George Orwell, pseudônimo utilizado por Eric Arthur, nascido em 1903, na índia e estudante na Inglaterra, tornou-se um dos mais influentes escritores do século XX. O jornalista, romancista e crítico, utiliza-se de uma alegoria, estabelecendo uma comparação entre o real e o animado em sua obra “A Revolução dos Bichos”, que assume forma de fábula com o objetivo de esclarecer e criticar algo.
Avaliado por Malcolm Bradbury como “A melhor sátira já escrita sobre a face negra da história moderna”, a obra porém, enfrentou diversos obstáculos antes de ser publicada. Por ser considerada uma sátira agressiva à ditadura stalinista, vários editores a rejeitaram. Quando publicada, em 1945, estremeceu o ramo literário e político da época, por ser imediatamente identificada uma analogia ao regime soviético.
Utilizando-se do recurso da figura de linguagem, mais especificamente da personificação, ou seja, atribuindo características humanas aos animais, Orwell estabelece uma comparação direta entre os líderes da Granja dos Bichos - onde se passa a narrativa - com os políticos russos da época em que ocorria a Revolução, dando a eles a forma de porcos; isso representou uma grande ofensa aos governantes e agravou ainda mais a atmosfera de desconforto.
Criando um paralelo entre a Revolução dos bichos e a Revolução Russa, George Orwell estabelece uma relação entre a Granja dos Solar, liderada por Jones e a Rússia Czarista.
A narrativa se dá a partir de um sonho tido pelo sábio porco Major (facilmente relacionado a Karl Marx, o pai do comunismo), idealizando um mundo sem humanos.  Após a morte do Major, impulsionados pelo sonho do sábio porco e pela insatisfação a respeito das condições em que viviam, a miséria e a tirania dos homens que ali mandavam, a Revolução dos bichos não tarda a acontecer. Eles expulsam Jones, o dono da granja, e os outros humanos, tomando o poder.
Baseados em sete mandamentos, que posteriormente foram sintetizados em um único lema “Quatro pernas bom, duas pernas ruim”, os animais instituíram um regime semelhante ao socialismo, chamado de Animalismo. Logo após a revolução, o poder encontrava-se nas mãos do porco Bola-de-Neve, que pode ser comparado à Lênin, pois o mesmo tomou as rédeas da Revolução Russa e deteve o poder, em primeiro momento. Desde então, os animais trabalhavam felizes, pois os frutos de seus esforços estavam sendo colhidos por eles, e não pertenceriam aos humanos como antes; se sentiam livres e viviam bem como os donos daquele lindo lugar, a Granja dos Bichos. 
 Entretanto, subitamente, o porco Napoleão dá um golpe e à força toma o poder implementando seu regime totalitário. Portanto, podemos compará-lo a Stalin, pois assim como este, utilizou a mídia, que no caso da narrativa foi representada pelo porco Garganta, para garantir sua legitimidade.
Corrompidos pelo poder, os porcos começam a burlar os mandamentos criados por eles próprios após a revolução, assim como previam os anarquistas, ao afirmarem que o poder é o maior inimigo em uma sociedade. Porém, com os pronunciamentos de Garganta, os outros animais acabam cedendo, pois são a massa, analfabeta e facilmente manipulada. Dessa forma, é notório o objetivo do autor de levar à tona imperfeições humanas: impõem regras e abusam do poder que têm, burlando-as, enquanto outros aceitam e se adaptam rapidamente.
A obra completa é apresentada em 112 páginas, fragmentadas em 10 capítulos. Entretanto, estes são completamente conectados, sendo possível inclusive a eliminação dessa divisão. Possuindo um posfácio por Christopher Hitchens e dois apêndices, o livro completo contém 147 páginas.
É fascinante como o autor consegue criar uma interação entre o leitor e o livro, despertando-nos às mais diversas emoções e sentimentos por cada um dos personagens.  O ódio ao porco Napoleão,  a pena do bravo Sansão... Ao final, os porcos adquirem características tão humanas que já não se sabe se são porcos ou homens.
Transcendendo barreiras dos fatos históricos, Orwell encontra maneiras de denunciar, mostrando defeitos da raça humana por meio de sutis alfinetadas pela trama, possibilitadas pelos encantos da literatura. Seres oportunistas, manipuladores, antiéticos, hipócritas e mais estúpidos a cada nova geração.
“Haviam nascido muitos animais; para alguns a rebelião não passava de uma obscura tradição transmitida oralmente, e outros nem sequer tinham ouvido falar a respeito. [...] Nenhum mostrou-se capaz de aprender o alfabeto além da letra B. Aceitavam tudo quanto lhes era dito sobre a Revolução e os princípios do Animalismo [...] mas era duvidoso que entendessem lá grande coisa.
A narrativa é uma leitura muito interessante e recomendada à aqueles que gostam de refletir sobre formas de governo, questões sociais e humanas. Recomendo especialmente à aqueles que se interessam ou estudam a Revolução Russa. Apesar da obra não se aprofundar no processo revolucionário, a analogia dos personagens permite melhor entendimento e fixação do conteúdo, de forma leve e envolvente, com uma linguagem de fácil compreensão.   
George Orwell, apesar de ter sofrido diversas retaliações, persistiu com sua obra e deixou um grande legado à humanidade.